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30 setembro 2009

A DIGNIDADE DOS IDOSOS

A dignidade dos idosos DOM CLÁUDIO HUMMES
No momento em que o Congresso Nacional e o governo da República voltam a discutir amplamente uma reforma da Previdência Social e querem discuti-la também com toda a sociedade civil, a Igreja Católica lança em todo o País sua Campanha da Fraternidade, que tem como proposta a vida, a dignidade e a esperança das pessoas idosas. Segundo o último censo do IBGE, em 2000 o número dos idosos atingiu a cifra de 8,6% da população brasileira. Portanto, cerca de 15 milhões de pessoas. Prevê-se que nos próximos 20 anos essa cifra atinja os 15%. Esses números já por si exigem novas políticas em relação aos idosos, para não ficarmos a reboque da História e a criar impasses onerosos, se não insolúveis, no futuro. Aliás, o crescimento proporcional do número dos idosos vem ocorrendo praticamente em todo o mundo. O que diversifica a nossa situação é que, independentemente desses números que prognosticam o futuro, os idosos no Brasil hoje já têm inúmeras razões para se sentirem mal atendidos, na grande maioria. Seu aumento proporcional no futuro só agravará a situação, se não forem tomadas providências urgentes, com novas políticas públicas em suporte aos idosos e, principalmente, uma reforma da Previdência Social. Uma reforma que distribua eqüitativamente os seus recursos, sem privilegiados e sem marajás que continuem a devorar a maior parcela dos recursos previdenciários. Uma reforma que construa um futuro consolidado para a Previdência Social.
De fato, hoje, no Brasil, a maioria dos idosos recebe aposentadoria irrisória, baixa e insuficiente. E há os que nem recebem. Em contrapartida, há marajás com aposentadorias e pensões astronômicas, defendidas como "direito adquirido". Mas nem tudo o que legal é moral. A lei pode ser imoral e, então, tem de ser mudada. Por isso, é necessária e bem-vinda uma rigorosa reforma da lei, que a torne mais justa, ética, eqüitativa. Mas as pessoas idosas se deparam ainda com outras adversidades. Numa sociedade em que se supervaloriza o lucro, a produtividade, o consumo, a eficiência, a juventude do corpo, o idoso sente-se marginalizado e desvalorizado. Percebe que muitas vezes o consideram um inútil, um peso morto, um improdutivo e fora dos padrões estéticos da cultura do corpo. Daí, com freqüência, um sutil - quando não escancarado - desprezo por ele e desrespeito.
O mercado de trabalho vem-se fechando sempre mais aos idosos, principalmente num tempo de desemprego colossal, como hoje. Sem dúvida, há exceções, isto é, tentativas de certas empresas de empregar pessoas mais idosas do que a regra geral, para aproveitar sua experiência e sabedoria. Mas continua verdade que o comum é ver o mercado de trabalho inacessível aos idosos. Isso já lhes dá um amargo sabor de exclusão e inutilidade. Na medida em que a aposentadoria da maioria dos idosos é baixa, também seu poder de consumo se reduz significativamente. Esse é outro aspecto de seu sentimento de se sentirem desvalorizados. Porque, hoje, é importante na sociedade quem consome o máximo, quem tem poder inexaurível de compra. Por outro lado, sabe-se que, no sertão nordestino, muitas vezes são os idosos que, com sua mínima aposentadoria rural, não deixam morrer de fome a família na época das secas. Verdadeiros milagres brasileiros!
Na nossa cultura dominante, a supervalorização da cultura do corpo, a juventude e o aspecto saudável são outro desafio para os idosos. Isso não significa que os jovens sejam objeto de políticas que os privilegiem. Ao contrário, se boa parte dos jovens entra na criminalidade, no tráfico da droga, na violência social, é porque lhes faltam oportunidade de educação integral, escolarização, emprego, para forjar projetos válidos de um futuro que valha a pena ser construído e vivido. Na atual cultura da imagem e do espetáculo, o vigor do corpo, o aspecto jovem e saudável são projetados na mídia como bens a ser buscados a todo custo, independentemente dos problemas do abandono da imensa maioria de nossos jovens. Aliás, na criminalidade de muitos jovens, um dos ingredientes é buscar meios para freqüentar academias de fisicultura, adquirir roupas, tênis e toda a parafernália de instrumentos eletrônicos de lazer que a mídia divulga como necessários ao jovem que queira acompanhar a moda do momento. Ficam as perguntas: que tipo de jovens queremos para construir um Brasil melhor para todos? Como realizar a prioridade da escola e educação integral para todas as crianças e jovens?
Como providenciar trabalho para todos os jovens que chegam à idade de trabalhar? Mas, numa tal sociedade do culto ao corpo jovem e saudável, os idosos, com freqüência alquebrados pelos anos e pela enfermidade, correm o risco do desprezo e do desrespeito. Outra situação inaceitável por que geralmente passam nossas pessoas idosas da classe menos favorecida, que são a maioria, é a precária assistência à sua saúde. As longas filas, muitas vezes madrugada adentro, que devem enfrentar para serem atendidas - quando chegam a ser atendidas! -, são uma indignidade. Sem falar nas dificuldades
FONTE : MOSAP

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